quinta-feira, 30 de abril de 2009

MAIO

publicado no blogue e no "Que fizeste das nossas flores"


Hoje um poeta morreu
no trabalho
a construir poemas

João Corinto servente
não sabia palavras
só tijolos e cimento

Um pé fora do andaime
o chão não era de cravos
e as aves
bateram asas

Hoje um poeta morreu
no trabalho

Projectou-se do oitavo verso
do seu poema



terça-feira, 28 de abril de 2009

segunda-feira, 20 de abril de 2009

FESTA DE BELOS VENDAVAIS

1974

Estávamos num conflito de areias
desterrados no deserto
quando choveu
nas nossas bocas
uma certa água
e os cravos povoaram
as ruas


mas foi por uma fresta
escancarada
que te descobri
silvestre e breve
a resistir
no chão onde se despem as pétalas
que voam
sem limites


Ainda hoje chove nas nossas bocas
uma certa efusão de cores
perfumes tresmalhados
e areias


mas és tu Abril
no mais íntimo dos silêncios
a minha festa de belos vendavais

quarta-feira, 15 de abril de 2009

OS AIS

Mário Viegas

quinta-feira, 9 de abril de 2009

NA PASSAGEM

Laura Tilinghast


Abro o pano

cai o pano

não existe pano

o tempo passa

trespassa

a passo

voa


para lá do azul

nem uma pedra

na passagem


quinta-feira, 2 de abril de 2009

O PERFUME DAS TUAS MAÇÃS

Andrzej Malinowoski
(recolhido pela Gabriela r. martins)


Subi a árvore mais esguia
só para ver
a eternidade de um instante
aprender como rebentam
as flores nos teus olhos

De repente ouvi
um coro de pássaros
bordarem um hino
e eu não sabia
que a primavera rebentava
fulva
sem um barco à vista
um rumor de maresias

Fixei-te
como quem lambe
um destino
ofereci-te vagaroso neste chão
estimulado pela luz
o corpo exposto

até o meu cão de barro

só para respirar mais cedo
o perfume das tuas maçãs