segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ROSA FOLHEADA

publicado no " Para lá do azul "

Amanheci
a desenhar
o teu corpo
para desfolhar
uma rosa
Porque não uma rosa?
Todas as flores
se desfolham
Também tu Rosa

terça-feira, 21 de setembro de 2010

VENTO DESGRENHADO





Tinhas um quase deus escondido
no oráculo das mãos
todos os azuis descompassados
à hora incerta das marés

e foi assim que acordaste
sentada no cais
a celebrar o único barco
que se fez ao mar
para te prender ao voo dos pássaros

e foi assim que soletraste
os miríficos relâmpagos
floriste em concha
soltaste areias por entre os dedos

até o vento desgrenhado
te afagar as tempestades

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CLARIDADES

publicado no "Que fizeste das nossas flores"



Os objectos movem-se
nas paredes da casa
enquanto a luz vertebrada da vela
se consome em babas de cera

porque somos frágeis como o cristal
e por vezes mais fortes que o seu brilho

Nas cabeleiras deste lume
ardem palavras de sonho

mas não as suas claridades

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AS PRIMEIRAS CHUVAS



Desponta Setembro
neste jardim de desassossegos

outros céus
pássaros
e cores

mas só nos teus braços
em flor adormecem
as primeiras chuvas

vicejam ainda tímidos
os relâmpagos
à sombra das romãs

e já é tanto


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

BREVE SEARA





Quando na limpidez dos silêncios
esculpida no espaço
dançaste em pontas
num palco de areias
por sobre as videiras
mais leve que o vento
eterna por um instante
despida de tudo
neste mar de terra arada
eu já tinha a tua sombra
projectada num lençol de linho
só me faltava a luz em arco
construir pontes
para não ferir as águas
Eu já tinha a tua sombra
quando em silêncio
as escarpas vindimadas
te colheram em pleno voo
livre
musical
num sonho de mãos inteiras
flores azuis e uvas maduras
nas paredes da casa
onde se deitam os meus olhos
Só faltas tu imensa
breve seara