sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

AS SOMBRAS NÃO PASSAM DO CHÃO



Quando os ditadores - sempre esquálidos - se escondem e auto-proclamam de mártires, desgraçadamente exibem os limites de uma tendência - a de serem abandonados pelos " amigos " que sempre os bajularam em vida mas nunca estarão disponíveis para os seus funerais.

Nos desertos - as sombras não passam do chão

domingo, 20 de fevereiro de 2011

AS CORES DA TEMPESTADE




Na ausencia de cores no jardim
insistes em chegar
com incendios ininteligiveis
nas asas
para eternizar as breves madrugadas

Que mais poderia fazer
senão abrir as janelas
para te receber quase ninfa
fustigada de sinais
com as marcas do vento
o aroma das maresias
fugidia
mensageira de primaveras

Reconheci-te pelo trinado
desgrenhada
em fuga
nas pautas

esquecida que já tinhamos adormecido
num abraço de limos

Chegaste imprevista
a preto e branco

mas hoje não sei porquê
acordámos no alpendre
a exortar
as cores da tempestade

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

AMANTES SEM DESTINO



Estávamos no tempo da nidificação
das garças
por entre moliços e neblinas
encantados
a soletrar metáforas

dulcíssimos
errantes
a agitar marés

amantes sem destino

Desapercebidos das águas ancoradas
no chão dos barcos
ainda hoje o rio ousa madrugar
eriçado nos cilios do corpo
e as aves despontam
silvestres

sussurram nos mouchões
vozes
que sentimos na pele
subir aos mastros
para amarmos melhor
as tempestades

Ainda hoje no alvor do rio
transportamos as margens
para o mar

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DESPIDOS DE TUDO

gustav klimt

Eternos e frágeis
no marulhar de um concerto de pássaros
foi assim que nos invadimos
despidos de tudo

Sentei-me no teu chão
coloquei o indicador
no lado esquerdo do rosto
fixei-me nas paredes da casa
e acendi os retratos mais fluidos

só para te ver dançar

vertebrada
sensual
sem idade
fio de música
a tornear esquinas e becos
numa coreografia quase perfeita

Lá estavas inteira
a desbravar caminhos
a assumir a dimensão
do cisne branco
em pontas
vermelhas

nas minhas águas

Eternos e frágeis
no marulhar de um concerto de pássaros
foi assim que nos invadimos
despidos de tudo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

À MEMÓRIA DAS PEDRAS



Lá no cimo
mais expressivo da serra
os silêncios permanecem
num castelo
a encher os olhos de vento

Não sabiam explicar
porquê
naquele recorte
muito menos as pedras
que se deitam sobrepostas
como sempre
ao som de latidos
na inverosimelhança
dos teus passos

mas quando poisaste
de um voo improvável
nas ameias

os cães organizaram-se
com bandos de pássaros
em guarda
à memória das pedras
Mesmo assim
não libertámos os silêncios