segunda-feira, 30 de maio de 2011

QUE FIZESTE DAS NOSSAS FLORES?



                                                         Reeditado         
                                                                       

As árvores viajam
na sombra do verde
um sussurro de folhas
e tu foges dos ramos

amanheces tão distante
que nem os meus olhos
descobrem os teus gestos

As árvores viajam
onde acontece a sombra do fruto
no chão
e os pássaros sem amos
deixam que a sombra
se rebente

Meu povo
que fizeste das nossas flores?





terça-feira, 24 de maio de 2011

VESTIDA DE NEGRO





Quando precipitada a noite
bateu no chão
os cães dormiam
sonhos profundos

Pelo restolhar
das cerejeiras
só podias ser tu
vestida de negro

a  roubar-me
as cerejas
que te queria oferecer

Não fosse o silêncio
se doer
também eu à noite
iria roubar estrêlas



quarta-feira, 18 de maio de 2011

OLHOS DE ÁGUA




Ainda não tinham despontado
todas as pedras
quando subi o teu corpo
pelas veredas mais íngremes
até chegar ao cimo da escarpa

onde estavas
a desenhar infinitos
a pestanejar amanhãs

esquecida que ondulavam verdes
expostos ao vento
pássaros silvestres
tão verdes
que peregrino me fiz ao mar
das searas

para colher os teus olhos de água

plantar uma árvore
na palma das tuas mãos




quarta-feira, 11 de maio de 2011

TÃO NUA POR UM INSTANTE




Estavas a tentar apanhar um pássaro
com a boca
uma sombra vertebrada
à luz do dia
esquecida da anatomia das formas
que circulam nas fragas

e eu fascinei-me
no teu corpo efémero
poisei em desalinho
na vertigem dos espelhos

precipitei-me num excesso de voo
mas encontrei-te

a pintar o vento
contra o vento

a sorrir nas minhas pedras

tão nua
por um instante
descoberta de azuis



quinta-feira, 5 de maio de 2011

O CHÃO ONDE ME DEITO





No alpendre ao piano
por baixo do ninho das andorinhas

num ritmo lento
cadenciado
o fascínio singular dos teus dedos
explode nas teclas

cores
jardins
luz

rasga a pedra
percorre o corpo
a pauta

nos recortes da chuva

canta
azul
ao espelho

espuma desgrenhada
o chão onde me deito