quarta-feira, 26 de agosto de 2015

AQUI NESTE .






Na ausência de relâmpagos
que se vejam
inteiros
nas crinas do vento

hasteamos bandeiras
de cores lúcidas

Aqui neste .
ancorados na memória
afeiçoamos pedras
desenhamos o recorte da serra

colhemos sons passos e lábios
até desvendarmos
os olhos dos pássaros


Eufrázio Filipe

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

NÓMADAS






Nómadas
no sossego da preia-mar
aves flamejantes
fazem seus ninhos

entram no poema

caminham na água
pelos nossos pés

Nómadas
neste chão que flutua
despontam pétalas
sem impecilhos

tão leves
no teu regaço

embriagam-se com mensagens
no outro lado do cais


Eufrázio Filipe

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

SOMBRA DE LUZ


                                  original com alguns versos meus já publicados porque "tudo está definitivamente inacabado"
                                            


A cantarolar metias nos púcaros
uma feira de barro
mas quando te vi assim
quase inteira
vindimada
muito antes dos relâmpagos
por sobre o palco das videiras
recebi-te de asas abertas

Folha ante-folha
chegaste ao alpendre
onde os  milagres são fáceis de explicar

chegaste sombra de luz
a mais um concerto de pássaros

os cães uivaram para as estrelas

e por um instante
salvámos o que parecia
ser eterno

Eufrázio Filipe


sábado, 8 de agosto de 2015

AFLORAR CLARIDADES


                                           


Neste espaço
aberto a todas as sedes
decepei uma árvore seca
mas deixei-lhe dois braços
erguidos
onde os pássaros silvestres
poisam em coro

Debruçado no vão da escarpa
precipitei os olhos
desprendi-me no canto

Neste espaço
quando o sol escapa dos céus
é frequente
aflorar claridades
"vozes ao alto"

e se não for a cantar
ai se se não for a cantar


Eufrázio Filipe

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

INCÊNDIO DE PALAVRAS






Nesta ilha desprendida de pétalas
o silêncio quando fala
desbrava caminhos
desponta na água
profana metáforas

e por uma côdea
uma fêmea
um território
os cães amigos
lutam até à morte

os insectos
distraídos
ágeis 
azuis
voam no magro pomar
rente à folhagem

e ao fim da tarde
andarilhos
poisam latidos
no meu ombro preferido
zumbidos
breves incêndios de palavras



Eufrázio Filipe