sexta-feira, 30 de outubro de 2015

TRAÇOS A CARVÃO


                                                                                                                 João Cutileiro



Nos mastros mais altos
respiramos sinais
de pássaros públicos
compromissos
com vírgulas nas palavras

caminhos vertebrados
que respaldam
fulgores de timbres

Nos mastros mais altos
exultam eternos
por instantes
traços de carvão
asas enxutas

respiramos
por uma nesga de sol
o fresco ar 
das madrugadas

Eufrázio Filipe

 

domingo, 25 de outubro de 2015

À NOSSA MESA


                                                                                        Justyna Kopania




O que mais me doi
não são folhas caídas
nem palavras soltas

são as romãs
em coro
quando se abrem

a sombra que rebenta
desgrenhada
à nossa mesa

o que mais me doi
não é o Outono
é a falta de relâmpagos

nos teus olhos


Eufrázio Filipe

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A DESBRAVAR ESTRÊLAS






Efémeros nesta lucidez
de vinhedos decepados
antes que o tempo fuja
sem deixar rasto
nem pátria

inscrevo-te
numa aresta de vento
para te ver
sobre as pedras

a sonhar sonhos irrepetíveis

fecho o portão
solto os cães
mas tu ficas

vertigem de luz
a desbravar estrêlas

Eufrázio Filipe

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

ATÉ A LUZ SE FAZER DIA


                                                              Justyna Kopania                           
                                                                                   
                          

Com os barcos às costas
num sopro de vento
de porto em porto
a dobrar esquinas

a comer pedras sem destinos
construtores de lonjuras
irreprimíveis

para lá das taprobanas
contra torvelinhos
silvestres
a domar escarpas
ao sabor das aves
que de tão abruptas
só poisam nos mastros

Num sopro de vento
andamos por aí a desbravar
arestas ruínas tempestades
até as águas correntes
se libertarem das crinas
invadirem o chão
para desassossego das sombras

De porto em porto
até a luz se fazer dia


 Eufrázio Filipe

"Presos a um sopro de vento"

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ABRAÇO DE LIMOS





No movimento
das mais profundas águas
há palavras
que se envolvem
frementes em círculo
no ouvido dos búzios

quando vêm à tona
num abraço de limos
despertam em partículas
o coração das pedras

nas paredes da casa
aprendem a escutar
os teus retratos


Eufrázio Filipe
 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

SÓ NOS FALTAVA SEDUZIR OS PÁSSAROS




A remoinhar
no mais íntimo da pele
tínhamos quase tudo 
tão perto das mãos
que nem lhe podíamos tocar

amanhãs 
e outros destinos

Só nos faltava
subir às pedras deste chão

impedir nas mansas águas
que o sonho rebentasse
onde as estrelas vicejam
sem quebrantos

Tínhamos quase tudo 

até um pomar de faúlhas
para alumiar o fulgor do canto 

Só nos faltava
seduzir os pássaros


EUFRÁZIO FILIPE
"Presos a um sopro de vento"

 

domingo, 4 de outubro de 2015

PAÍS ALBARDADO




Não podemos mudar de povo mas quando o PS decidir mudar de condomínio tudo será diferente - assim - as misérias e a instabilidade social vão continuar, até às próximas urnas. 

Confrange ver o país albardado. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015